*Texto escrito por Renata Feltrin
Fotografia: Paulo Liebert | @pauloliebert_
Eu entrei na Casa Branca da Rua Mateus Grou 576 e fui recebida com um sorriso e um café. Esperei alguns minutos até que ela chegasse para me encontrar.
Chegou e fomos para uma mesa na parte do fundo da casa, com vista para um pequeno jardim. Lá me contou sua história que deu origem à história daquele lugar. Há 7 anos quando ficou grávida e se tornou mãe, sentiu uma enorme inadequação e falta de espaço no mercado de trabalho. Resolveu perguntar nas redes sociais quantas mulheres sentiam o mesmo e gostariam de tomar um café para trocar sobre isso. Esperava 3, apareceram 80.
Nascia ali a semente de uma comunidade, que depois ganharia uma casa, aquela onde estávamos: a Casa B2Mamy. Naquele dia, na nossa primeira conversa, Dani Junco ( fundadora e CEO da uma Socialtech focada em tornar mães e mulheres líderes e livres economicamente, por meio de educação, empregabilidade e pertencimento ), me deu de presente o livro O Jogo Infinito de Simon Sinek, leu trechos que forjaram sua visão e a mantiveram de pé quando a pandemia fechou tudo poucos meses depois dela abrir a casa com todas as economias que tinha na vida.
“Escolha a sua causa justa e as pessoas virão de todos
os lados ajudá-la a mover ela pra frente”
Meses depois, cheguei cedo para tomar um café da manhã em uma cafeteria em outro canto da cidade. Ia encontrar uma pessoa que já estava me esperando. Dani Graicar me contou sua história por mais de uma hora, e resumida, afinal até ali já havia aberto 11 empresas, errou, acertou, aprendeu, investiu em autoconhecimento e naquele momento celebrava o sucesso da PROS, agência de comunicação que hoje é CEO.
Isso tudo além de ser mãe de 3 filhos, inclusive gêmeos na segunda gestação. Na pandemia criou o Aladas, um movimento para unir, encorajar, apoiar e capacitar mulheres que querem liderar e/ou empreender. Entendeu que nesse momento da minha vida era importante ajudar outras mulheres com mais conhecimento e com os aprendizados que acumulou em toda a sua história empreendedora.
11 de maio de 2023, semana do dia das mães: B2Mamy e Aladas se uniram pra realizar juntas o Mãe, Summit, o primeiro evento do ecossistema de inovação e empreendedorismo para falar sobre a maternidade e para o auditório lotado do Cubo em São Paulo, mesmo lugar que há 7 anos antes era local de desejo de Dani Junco como espaço para um evento mas que, naquela época, nem foi possível abrir uma conversa para negociação.
No Mãe, Summit, com ingressos esgotados um mês antes do evento, as mais de 500 pessoas presentes assistiram um dia todo de programação que teve painéis com 31 speakers, música, peça de teatro, recreação para as 25 crianças que foram acompanhando as mães e happy hour, apoiado por 12 marcas patrocinadoras de peso como O Boticário e Nestlé.
Mas o que abordou um Summit sobre a Maternidade?
Fotografia: Marcos Mesquista | @marcosmesquitafotografia
Empreendedorismo feminino, crise da impostora, saúde mental e bem-estar feminino, independência financeira, carreira, parentalidade, rede de apoio, longevidade, autoestima e construção de comunidade.
Não é nenhuma novidade que por questões históricas e culturais o sistema social de trabalho e as instituições não foram constituídos para mulheres no geral e menos ainda para mães. No Brasil, as mulheres tiveram acesso ao trabalho registrado podendo receber por atividades não domésticas apenas na constituição 1934, não faz nem 100 anos e ainda assim, inicialmente foram restritas a certas profissões e recebiam salários inferiores aos homens. Isso gerou um legado profundo ainda nos dias de hoje: um gap de equiparação salarial e presença feminina em muitas profissões, níveis de liderança e áreas de negócio. E o direito à licença maternidade só veio em 1943 e era apenas de 84 dias, que só foi ampliada para 130 dias e se tornou obrigatória no Brasil em 1988, ou seja, há apenas 35 anos.
As instituições não foram construídas pra acolher as mães, em suas necessidades e potencialidades. É tornar-se mãe e descobrir que isso é algo que te desvaloriza, faz você ficar outsider de qualquer coisa. Você não tem mais o mesmo espaço no trabalho, na balada, no motel” como disse Rafa Brites, influencer de jornadas em sua fala no Mãe, Summit.
Somos cada vez mais mães movendo pra frente a economia, seja com carteira de trabalho assinada, seja empreendendo. Cada vez mais mães identificando necessidades e mudando o sistema social a partir das suas decisões e ações como parte integrante e ativa. Já que como disse Mafoane Odara, Líder de RH para América Latina da Meta, estamos cada vez mais conscientes de que
“Cada um de nós tem uma missão indelegável
de mudar o mundo”
Mulheres que sabem, como pontuou Bi Galloni, responsável pelo marketing e ESG do Banco Safra:
“A gente tem o privilégio de se cuidar quando as gerações
anteriores só tinham que trabalhar, cuidar da casa e das crianças”.
E sabemos mais que isso, sabemos que a maternidade, ao invés do que a velha economia enxerga, é um processo de ganhar potência. E que, para a nova economia, caracterizada pela tecnologia, inovação e colaboração, onde há abundância de oportunidades para empreendedores e trabalhadores criativos e flexíveis, nós estamos muito mais prontas. Prontas para nos beneficiar dessas características, usando nossa habilidade de multitarefa e resolução de problemas para criar soluções inovadoras para problemas que empresas e líderes tradicionais nunca sequer identificaram.
Nossas abordagens naturalmente colaborativas, nos fazem buscar caminhos para trabalhar em rede com outros empreendedores e profissionais gerando oportunidades e meios de superar todo tipo de desafios.
Isso sem falar que só uma mãe líder e empreendedora é integralmente capaz de pensar em negócios que resolvem questões voltadas para as necessidades de outras mães. E em políticas de trabalho flexíveis e inclusivas que permitem que outras mulheres e mães tenham acesso a empregos e oportunidades em seus negócios, não apenas contribuindo para o crescimento econômico, mas também movendo a sociedade para uma realidade mais inclusiva e igualitária.
Esse olhar tem feito as mulheres, antes dos homens, lutar pela licença parental equiparada, o que já é realidade por exemplo em empresas como O Boticário. Dando a chance para homens de viverem e usufruírem de toda a corresponsabilidade emocional e operacional dos primeiros meses da vida de um ser humano.
Uma mãe sabe que é preciso criar uma rede de apoio para trabalhar e criar seus filhos. Esse é o caminho real de uma maternidade em que sucesso profissional, saúde integral, felicidade e protagonismo dão certo. E rede de apoio é comunidade, que se ajuda, apoia, cria contexto para exercermos toda a potência que somos, sendo mãe e todos os outros papéis. Em comunidade entendemos na prática que a parentalidade vai muito além do título de pai e mãe. Se estende em toda a rede de apoio onde nos sentimos seguras e com recursos para ser o que precisamos ser na sociedade.
O Mãe, Summit foi mais uma realização de B2Mamy e Aladas que reuniu e fortaleceu a vibrante comunidade de mães que está movimentando a nova economia. Conexões que começam no humano e rápido viram negócios e resultados econômicos. Conexões que constroem laços fortes de esperança em um mundo que ainda tem tanto para evoluir. Conexões vibrantes e ousadas, que salvam, que ressignificam o que mãe é e pode de verdade fazer na nossa sociedade.
E como nada em comunidade é por acaso, todas as speakers do evento doaram seus cachês, em benefício da próxima turma da Womby , ajudando na formação de mulheres pelo programa social da B2Mamy, que capacita mães em situação de vulnerabilidade em profissões digitais.
Eu sou uma das 500 pessoas que estava no CUBO, uma das milhares de mães já impactadas e parte da comunidade. Eu, mãe de duas mulheres, Mariana de 13 anos e Carolina de 9, o que me coloca nesse movimento não só por mim, mas também por elas, muito provavelmente futuras mães, um movimento de construção de um futuro em que comunidade é contexto para potência materna.
Cheguei pelo espaço, generosidade e afeto, por aquelas que me abriram as portas da sua casa, do seu coração, das suas redes. Fico porque também posso abrir minhas próprias portas para tantas que precisam passar. Um movimento gigante, uma comunidade cada vez mais forte, que está apenas começando. E onde aprendemos todos os dias que não podemos jamais duvidar de uma mãe que deseja ser exemplo para seu filho.
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Texto escrito por Renata Feltrin, mãe da Mariana e Carolina, paraense com orgulho imenso de sua ancestralidade vinda da Amazônia, é alguém de muita fé, formada em comunicação mas desde sempre apaixonada por tecnologia e pelas possibilidades de acesso e transformação que ela nos traz. Trabalhando mais de 20 anos no contexto de grandes empresas.
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