Mas será que estamos preparados para essa conversa?
Foto: Paulo Liebert evento Pai Summit
Normalmente, quando falamos sobre paternidade ativa, afetiva e efetiva, a discussão gira em torno do cuidado, já que é sabido que devido à construção social patriarcal da sociedade brasileira e ocidental como um todo, o cuidado é atribuído à mulher.
Porém raramente se observa que tal atribuição do cuidado às mulheres é na realidade um imposição e uma tradição compulsória que já começa na primeira infância das mulheres quando lhes educamos para o cuidado dando-lhes brinquedos de bebês e kits de cozinha, cama, mesa e banho enquanto aos meninos damos espadas, pistolas outros brinquedos que sugerem que as masculinidades se formam e se estabelecem pela violência, agressividade e ataque.
Essa cultura que afasta as masculinidades do cuidado tem consequências nas paternidades e na própria saúde física, mental e emocional dos homens, já que uma vez que somos educados distantes do cuidado e do autocuidado, ao contrário das mulheres, não somos socializados para sermos pais e cuidadores.
É aí que o provérbio africano faria toda a diferença se fosse vivido na prática desde a gestação e a primeira infância. Uma aldeia inteira criando uma criança não deixa espaço para exclusão, para qualquer tipo de preconceito, discriminação e falta de cuidado, pois toda a pluradidade de identidades de gênero, cultura, etnia e condição socioeconômica e emocial se encontram na comunidade.
Foto: Paulo Liebert
No Pai Summit, tivemos a oportunidade de vivenciar o conceito por trás deste provérbio. Unimos pais casados, pais solo, viúvos, pretos, amarelos, brancos, autistas, neurotípicos, com deficiência, transgênero e das mais variadas regiões e culturas presentes no Brasil para abordar o cuidado, as masculinidades, paternidades e papéis de gênero junto a quem mais sofre com a ausência do homem nessa discussão: as mulheres.
Tudo isso diante de lideranças corporativas responsáveis pela construção, manutenção e multiplicação de ambiências de cuidado, afeto e paternidades positivas nas empresas e organizações que representam.
Aprendemos que de fato é fundamental que haja representatividade de todas as subjetividades na discussão familiar e corporativa para que realmente possamos contribuir na formação de lares, empresas, comunidades e sociedades antimachistas, equitativas, anticapacitistas, antirracistas e inclusivas nos mais diversos aspectos. Testemunhamos que na troca é possível descobrir novas possibilidades de exercício das paternidades e masculinidades e assim entendemos que é na co-criação que se encontra a maior riqueza de repertório para lidarmos com os desafios que se colocam diariamente diante das famílias que buscam ressignificar a parentalidade presente, consciente, respeitosa, amorosa e acolhedora.
A primeira edição do evento, que já nasce como um marco histórico e revolucionário, nos deixou com a sólida esperança em paternidades positivas que se nutrem no intercâmbio de vivências e histórias de superação, desafios, derrotas, conquistas e aprendizados. Percebemos na prática que desejar um Feliz Dia dos Pais e não ser rede apoio, não ofertar uma escuta ativa, empatia e transformadora ou não promover espaços de troca, cuidado e acolhimento para pais, mães, famílias e cuidadores é infrutífero, demagógico e até desnecessário.
Perceber tudo isso em um evento de paternidades pensado, organizado e realizado por mulheres é a maior confirmação de que o provérbio africano realmente tem toda razão: É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança.
Texto escrito por Humberto Baltar, conteudista da B2Mamy, Consultor de Diversidade e Inclusão e Palestrante, fundador do Pais Pretos Presentes, Professor de Inglês Empresarial.