Artigo por Monique Menezes dos Santos, fundadora Gente Gentil Consultoria
Acho que toda mulher já ouviu a expressão: síndrome da impostora. Por mais que ela não seja exclusiva de mulheres, em geral, são as mulheres que falam mais sobre ela. Ainda bem! Que bom que conseguimos falar e expressar o que estamos sentindo. Já é um caminho na busca por questionar esse lugar.
Infelizmente ainda para muitos homens não é tão comum expressar suas angústias e medos, por toda cultura da masculinidade tóxica que ainda vivemos. Não que seja fácil para nós mulheres e mães, mas na comparação temos esse ponto de vantagem, conseguimos acessar mais nossos sentimentos e conversar melhor com nossas emoções. Eu passo e já passei por essa situação. Aquele momento em que não nos achamos capazes, onde duvidamos da nossa potencialidade, onde temos dificuldade de receber um reconhecimento e elogio, onde ficamos ansiosas, as vezes paralisamos, temos dificuldade de seguir e ficamos esperando a validação do outro o tempo inteiro. Não nos sentimos pertencentes aquele lugar, aquele cargo ou aquele grupo. É uma sensação muito ruim para quem vivencia e ela pode durar muito ou pouco tempo dependendo da história de vida e contexto de cada pessoa. Sendo mulher e mãe eu diria que essa sensação vem amplificada!
A forma como fomos educados influencia muito no maior ou menor impacto dessa síndrome no nosso dia a dia. Em geral, educações muito rígidas, com muito autoritarismo, baixo espaço para dialogar e expressar suas emoções ou o extremo oposto situações de abandono, negligência e falta de acolhimento e carinho contribuem para a aumentar ou diminuir a autoestima das pessoas e a forma como ela lida com as adversidades e mudanças que acontecem.
Assim como, a cultura organizacional de uma empresa também pode reforçar esse lugar de insegurança e medo ou pode encorajar a pessoa frente aos desafios que se apresentam.
O que você acha de frases como essas abaixo, são encorajadoras ou repressoras?
“Foguete não dá ré!”
“Estamos apenas começando! Hoje é o dia 1! ”
“Parabéns! Mas você não fez mais que sua obrigação!”
“Aqui não temos tempo pra celebrar!”
“Aqui pode errar mas erramos rápido!”
“Não temos espaço para pessoas medianas.”
“Temos que elevar a barra sempre!”
Todas elas eu já ouvi em algum momento da minha carreira. Algumas delas, em muitos momentos, eu achava que elas eram encorajadoras. Mas hoje, refletindo, eu interpreto todas essas frases como combustível que alimentava um ambiente de trabalho que gerava sobrecarga nas pessoas, ansiedade e adoecimento. É um eterno nunca tá bom, nunca é suficiente e não temos tempo para celebrar.
E isso não é natural do ser humano. Isso é falso, é uma mentira. Precisamos fazer parte, precisamos de conexão, de celebração, de descanso e nos sentirmos reconhecidos. Não incluir isso na cultura influencia no reaparecimento desses fantasmas da impostora ou do impostor.
Em busca de um resultado financeiro e crescimento da empresa direcionamos a maneira como as pessoas devem performar de forma não natural e humana. E sim sendo um lugar de performance mesmo, mas no sentido não de demonstrar um resultado positivo para empresa e para a pessoa colaboradora mas no sentido de que as pessoas passam a representar ser alguém que não são, entrar na forma que alguém disse que você deveria ser. Isso é muito adoecedor e não sustentável por um longo tempo. Então aqui o impostor ou impostora é a cultura da empresa e não a pessoa colaboradora.
Fica aqui o convite a todos nós questionarmos se somos nós mesmos os impostores ou estamos em um lugar ou ambiente impostor. Que performance é essa desejada? É uma performance que leva em conta minhas individualidades e meu jeito de ser? Ou é uma performance pré-moldada e com prazo de validade? E assim vamos contribuir para repensar, influenciar as formas de gestão de pessoas e cultura dos lugares onde estamos trabalhando.
Aqui, na Gente Gentil, curtimos muito essas reflexões e buscamos o diálogo para repensar as práticas, comportamentos e processos em prol de um modelo de gestão mais humanizado e que encoraje as pessoas a mostrarem suas melhores versões!
Monique Menezes dos Santos, fundadora e consultora da Gente Gentil Consultoria. Hoje ajudo empresas e pessoas a criarem ambientes que priorizem a saúde mental, processos e relações de trabalho mais gentis e humanizados, especialmente para mães e mulheres. Mais de 15 anos de experiência em RH atuando em empresas de grande porte e os últimos 10 anos em empresas de Tecnologia/Startup ocupando posições de liderança executiva de RH. Graduada em Psicologia pela UFF, com Pós-MBA em Gestão de Pessoas pela FGV. Cursando Formação em Educação e Parentalidade Encorajadora e pós-graduação em Psicoterapia de Família e Casal, pela PUC-RJ.
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