Dani, você já reparou que aqui na praia, as pessoas não correm da chuva? Olha ali aquela senhora atravessando a rua, o menino do outro lado e o cara de bike. Todos estão andando como se não molhasse, disse ele ressabiado.
Meu marido me disse isso e eu passei a reparar, que as pessoas em São Paulo realmente lidam diferente com a chuva. Ao menor chuvisco chuvisquento, metade saca um guarda-chuva e a outra metade desprevenida aperta o passo ou se protege embaixo de algum lugar.
Comecei tentar entender esse comportamento e me perguntei quem eu era quando chovia e estava na rua. Alguns cenários divido com vocês (amo tópicos):
- No cheirinho de chuva tenho um sentimento bom, mas seguido por algo que eu já conheço vai acontecer, mas que vai mudar o curso do dia e não gosto muito do que sinto depois;
- Começa o chuvisco e sou a paulista doida apertando o passo (eu nunca tenho um guarda-chuva), causa uma ansiedade de que mesmo que naquela hora ainda não esteja me molhando, preciso me prevenir rápido;
- Quando aperta, já penso em rotas alternativas, outros planos, chamo o Uber ou não,já to correndo na marcha ridícula atlética, que lojas de roupa tem no caminho se não der tempo de voltar em casa;
- E aí ela chega torrencial me deixando paralisada embaixo de uma marquise com cara de Ué, como se eu não soubesse que ela viria e brava pela impotência diante da natureza.
Percebi que é exatamente assim que lido com os desafios, deixando maiores do que eles realmente são. Muitas vezes nada que uma sacudida na roupa e um rabo de cavalo alto não melhorem o que a chuva molhou. As vezes, deixar molhar é a única coisa que conseguiremos fazer até aquela condição mudar. Em Santos, a chuva é rotina, que acredito que não faça sentido correr sempre dela, porque ela estará poderá estar ali amanhã, um pouco mais fraca ou mais forte mas tem grandes chances de estar. Assim como os problemas.
Algumas vezes temos que deixar a chuva cair mesmo, esperar um pouco protegidas em algum lugar, sem tomar grandes decisões. As vezes, temos que dançar com ela.
Desejo para mim em 2018 ser essa pessoa da praia, com o poder de ser impermeável. E você é quem quando chove?
Dani Junco
Fundadora B2Mamy, mãe do Lucas um caiçarinha cacheado apaixonado pelo mar e pelo homem-aranha.